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A preguiça sul-americana, uma história de sucesso evolutivo até a chegada dos humanos

A preguiça sul-americana, uma história de sucesso evolutivo até a chegada dos humanos

Madri, 22 de maio (EFE). — As preguiças são pequenos herbívoros lentos que vivem suspensos em galhos de árvores nas selvas da América do Sul, mas nem sempre foi assim. Há cerca de 15 milhões de anos, havia uma grande variedade de espécies diferentes, algumas gigantescas e outras pesando apenas dez quilos.

Uma equipe de cientistas liderada pelas Universidades de São Paulo (Brasil) e Buenos Aires (Argentina), com a colaboração do Museu Nacional de Ciências Naturais (MNCN) de Madri, reconstruiu a expansão e o declínio desses mamíferos, que tinham uma incrível capacidade de adaptação, pelo menos até a chegada do Homo sapiens, que praticamente os exterminou.

Ao combinar pesquisa fóssil, dados genômicos e modelos evolutivos avançados, os autores reconstruíram a história evolutiva das preguiças e as modificações de tamanho que elas desenvolveram para se adaptar às mudanças climáticas e sobreviver tanto em pastagens (um ambiente terrestre) quanto em árvores.

Transformações incríveis

O estudo, cujos detalhes foram publicados esta quinta-feira na revista Science , lembra que as preguiças surgiram há 35 milhões de anos na América do Sul, uma região que evoluiu isolada do resto do mundo durante vários milhões de anos, dando origem a numerosos mamíferos nativos únicos.

As primeiras preguiças eram animais grandes, que viviam no solo e pesavam entre 80 e 350 quilos.

Esses animais adaptaram seu tamanho a diferentes estilos de vida, dietas e habitats até que, há cerca de 15 milhões de anos, pode ter havido até cem gêneros distribuídos pelo continente americano, alguns pesando mais de quatro toneladas (terrestres) e outros menos de dez quilos (arborícolas).

Tamanhos extremos e adaptações ecológicas

"Há quinze milhões de anos, havia uma grande variedade de tamanhos de preguiças. As primeiras preguiças eram do tamanho de um tamanduá, e depois evoluíram para tamanhos muito maiores, em torno de uma tonelada, e, ao mesmo tempo, para tamanhos muito menores, de cinquenta quilos ou menos", disse Juan Cantalapiedra, pesquisador do MNCN e coautor do estudo, à EFE.

Especificamente, o estudo divide esses mamíferos em "três grandes ecologias: 'terrestres', que eram as maiores; 'semiarbóreas', com tamanhos mais intermediários que não permitiam uma vida totalmente arbórea; e 'totalmente arbóreas', que precisavam ser muito pequenas, como os mamíferos de hoje", observa o paleobiólogo do MNCN.

Mas há cerca de 14 ou 15 milhões de anos, o clima começou a mudar e a Terra começou a esfriar. Essas mudanças ambientais substituíram as florestas por paisagens mais abertas e pastagens arborizadas, o que favoreceu a expansão de grandes mamíferos, especialmente grandes herbívoros, como preguiças, mastodontes, antílopes e búfalos.

Como resultado dessa mudança climática, espécies gigantes, como o Megatherium americanum , reinaram nas paisagens do Pleistoceno, entre aproximadamente 2,5 milhões de anos atrás e 12.000 anos atrás.

Catastrófico para grandes preguiças

No entanto, a chegada do Homo sapiens ao subcontinente americano, há cerca de 15.000 anos, foi catastrófica para as preguiças gigantes. O estudo detalha que, durante a transição entre o Pleistoceno e o Holoceno, as preguiças gigantes sucumbiram rapidamente — primeiro no continente e depois nas ilhas —, incapazes de lidar com a expansão humana. Apenas as espécies menores, que viviam em árvores, permaneceram.

A cronologia de sua extinção acompanha a expansão humana. "Nenhuma crise climática anterior os afetou tão radicalmente, o que aponta para a pressão antropogênica como a nova variável e o golpe final", explica Alberto Boscaini, da Universidade de Buenos Aires (Argentina).

Os pequenos, os únicos sobreviventes

Ao contrário dos gigantes, as linhagens menores, que levavam uma vida completamente arbórea — pesavam entre dez e vinte quilos, como a atual — e eram relativamente recentes (surgiram há cerca de três milhões de anos), conseguiram sobreviver aos humanos e estender sua linhagem até os dias atuais.

Para os autores, a longa história evolutiva das preguiças demonstra que elas foram capazes de se adaptar a mudanças geológicas, climáticas e ecológicas e se reinventar para sobreviver em árvores e no solo. "Este grupo transformou versatilidade em oportunidade", observa Daniel Casali, da Universidade de São Paulo (Brasil) e coautor do estudo.

No entanto, seu fim abrupto destaca uma dura realidade: "A chegada de algo inesperado, neste caso os humanos, é suficiente para pôr fim a uma história de sucesso. As preguiças são um exemplo de que, na evolução, nada é garantido ou constante", conclui Cantalapiedra. EFE

ECG/ICN

Um urso-preguiça na Costa Rica. EFE/Jeffrey Arguedas

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