Combater o despovoamento e mudar o modelo agroalimentar são fundamentais para a prevenção de incêndios.

O ano de 2025 promete ser histórico e revolucionará as estatísticas, com mais de 400 mil hectares devastados. A área queimada é mais de três vezes superior à média das últimas décadas [1], com incêndios que estão entre os mais graves da história da Espanha, como o de Molezuelas (Zamora) ou o de Jarilla, o mais devastador da Extremadura.
"Nossas florestas compartilham os mesmos problemas estruturais que nossos povos: abandono institucional, apatia e uma divisão insustentável entre áreas urbanas e rurais. Problemas muito mais invisíveis que os incêndios, mas essenciais", disse Mónica Parrilla de Diego, engenheira florestal e porta-voz do Greenpeace.
As comunidades mais afetadas são as mais despovoadas
As comunidades mais afetadas pelos incêndios [2] estão entre as menos povoadas, como as províncias de Ourense, León e Zamora, segundo o INE. O êxodo rural transformou a tendência do uso do solo em duas direções opostas: por um lado, o abandono das áreas rurais; e, por outro, a intensificação da agricultura e da pecuária.
Como resultado, a área cultivada diminuiu 10,46% nos últimos anos (de acordo com os Anuários Estatísticos Agrícolas), atingindo atualmente 16,7 milhões de hectares, segundo o Inquérito às Áreas e Rendimentos Agrícolas (2024). Além disso, o aumento da pecuária intensiva desconectada do território, o declínio da agricultura extensiva e a concentração das exportações agrícolas contribuíram para o crescimento descontrolado das florestas sem gestão ativa, criando o ambiente ideal para os megaincêndios deste mês de agosto.
A área florestal na Espanha aumentou em quase quatro milhões de hectares entre 1962 e 2019, uma área equivalente à região da Extremadura. É o país da UE com a segunda maior proporção de áreas florestadas, representando 55,2% do território, atrás apenas da Suécia. Esse crescimento descontrolado favorece a propagação de incêndios, já que as plantações perto das aldeias, que antes retardavam a propagação das chamas, desapareceram.
Por outro lado, as fazendas de gado são menos de 10% em comparação à década de 1960, enquanto as unidades pecuárias quase triplicaram devido às megafazendas: um modelo que gera forte impacto ambiental e desloca a população local.
Diante desse desequilíbrio, o que não é gerenciado acaba sendo gerenciado pelo fogo. O abandono das áreas rurais reduziu o risco de incêndios, mas agravou as causas de sua propagação. Portanto, a gestão do território e o setor primário são fundamentais para a prevenção de incêndios.
Falta de recursos impede cumprimento de planos preventivos
Municípios em Zonas de Alto Risco de Incêndio (ZAL) devem possuir planos locais de prevenção e emergência contra incêndios, que são de competência municipal. Há alguns dias, a Promotoria de Meio Ambiente e Urbanismo anunciou que investigaria se os municípios afetados possuíam planos municipais de prevenção, afirmando a possibilidade de transferir a responsabilidade criminal para aqueles que tinham a "obrigação" de desenvolver essas medidas preventivas. Em 2019, o Greenpeace realizou uma análise dos municípios com os incêndios mais devastadores deste século. O resultado: nenhum possuía planos preventivos, nem implementados nem comunicados.
Exigimos o cumprimento da regulamentação: planos locais de prevenção e emergência nos municípios da ZAR. Saudamos o fato de o Ministério Público estar garantindo esse cumprimento, mas não às custas dos mais vulneráveis. Responsabilidades não podem ser assumidas sem os recursos para aplicá-las. É urgente fornecer recursos financeiros e técnicos para garantir a implementação de planos de prevenção e emergência a fim de evitar situações como a que estamos vivenciando nestes dias", acrescentou Mónica Parrilla de Diego.
Um novo modelo agroalimentar reduziria os incêndios florestais
O Greenpeace nos lembra que "proteger o meio rural significa nos proteger do fogo". Diante da crescente gravidade dos incêndios florestais, é fundamental restaurar o mosaico agroflorestal e paisagístico tradicional, um modelo sustentável mais adaptado às mudanças climáticas, com menor consumo de combustível e maior capacidade de regeneração dos ecossistemas.
A pecuária extensiva e a gestão silvipastoril são ferramentas essenciais para prevenir incêndios, mitigar a crise climática e revitalizar as áreas rurais. Para isso, é necessária uma mudança no modelo agroalimentar, conforme proposto pelo Greenpeace em seu recente relatório "Revolução Alimentar", que defende uma transformação abrangente do atual sistema alimentar espanhol.
De acordo com esta análise, transformar o sistema alimentar espanhol, da produção ao consumo sustentável, capturaria 10,7 milhões de toneladas de CO₂eq anualmente e duplicaria o emprego na pecuária, além de aumentar o emprego no setor agrícola e florestal em 30% até 2050. Essas medidas constituem soluções genuínas para a prevenção de incêndios.
"O pastoreio de cabras e ovelhas funciona como um corta-fogo natural. Comprometer-se com a pecuária extensiva e uma transformação profunda do nosso sistema alimentar significa comprometer-se com a ação climática, a prevenção de incêndios e o desenvolvimento rural", disse Helena Moreno, líder da campanha Sistemas Alimentares Sustentáveis do Greenpeace.
A Greenpeace pede medidas imediatas e eficazes:
Gerenciar pelo menos 1% da área florestal nacional (260.000 ha) a cada ano, priorizando áreas estratégicas de atuação.
Destinar cerca de 1 mil milhões de euros/ano à prevenção. Até ao momento, este ano, estima-se que tenham sido gastos entre 3 mil milhões e 6 mil milhões de euros na extinção [3].
Promover a pecuária extensiva como instrumento preventivo e de desenvolvimento rural.
Restaurar áreas florestais para estabelecer modelos silvipastoris extensivos, reduzindo a densidade de árvores e permitindo a presença de plantas herbáceas e matagais de interesse para a pecuária extensiva.
Transformar o sistema alimentar, da produção ao consumo, é uma ferramenta essencial para prevenir incêndios, revitalizar áreas rurais e garantir a sustentabilidade territorial, mitigando a crise climática.
Fornecer aos municípios em Zonas de Alto Risco de Incêndio (ZAL) recursos financeiros e técnicos para implementar planos locais de prevenção e emergência.
Ampliar debates e alternativas no meio rural sobre o uso do fogo e atividades no contexto das mudanças climáticas.
Aumentar a pesquisa sobre as causas e motivações dos incêndios.
Aprovar imediatamente o projeto de Decreto Real sobre diretrizes e critérios comuns para planos anuais de prevenção, monitoramento e extinção de incêndios florestais.
ABC.es