Incêndios batem recordes na Europa, com a Península Ibérica como principal vítima.

Irene Morante de la Hera
Editorial Meio Ambiente e Ciência, 30 de agosto (EFEverde).- Até agora neste ano, a área queimada na União Europeia (UE) ultrapassou um milhão de hectares, o pior número já registrado, em grande parte devido aos intensos incêndios de agosto na Península Ibérica, que deixaram milhares de mortos, evacuados e áreas protegidas devastadas.
Faltando um mês para o fim da temporada de incêndios, o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS) registrou 1.016.425 hectares (ha) queimados, superando os 993.558 ha registrados em 2017, o recorde desde que os registros começaram em 2006.
Só Espanha e Portugal respondem por mais de 60% da área terrestre devastada por incêndios nos 27 países. Na Espanha, os incêndios devastaram 377.234 hectares, 37% do total, enquanto em Portugal o número sobe para 260.358 hectares, 25%.
Onda de calor e vegetação como combustívelO mês começou com uma onda de calor intensa sentida em todo o sul da Europa, mas especialmente nos dois países ibéricos. Na Espanha, durou 16 dias e se tornou a mais forte já registrada, com uma anomalia de 4,6 graus Celsius.
De acordo com um relatório divulgado na sexta-feira pela Agência Meteorológica do Estado (Aemet), a primavera deste ano — "muito chuvosa" em grande parte da península — favoreceu um crescimento extraordinário da vegetação, que, após junho e julho secos e quentes, se tornou combustível para os incêndios.
As chamas não só devastaram a área, como também provocaram um aumento na emissão de gases poluentes. Segundo o EFFIS, entre 1º de janeiro e 26 de agosto, 38,37 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) foram liberadas em decorrência dos incêndios, mais que o triplo da quantidade liberada no mesmo período em 2024 (11,46 milhões).
Emissões excepcionais e ar deterioradoO cientista do Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copérnico (CAMS), Mark Parrington, descreveu as emissões dos incêndios espanhóis e portugueses em agosto como "excepcionais", alertando que as grandes quantidades de fumaça e partículas PM2,5 causaram uma "grave deterioração da qualidade do ar" na Península Ibérica e em partes da França.
Na Espanha, regiões como Castela e Leão (centro-norte), Galícia (noroeste) e Extremadura (oeste) foram as mais afetadas pelos incêndios florestais, que nas últimas semanas registraram mais de vinte focos graves ativos ao mesmo tempo.
Os incêndios deixaram pelo menos oito mortos até agora neste ano e, somente em agosto, forçaram a evacuação de mais de 35.000 pessoas, queimaram cidades e áreas naturais protegidas, além de interromper estradas e ferrovias.
A paisagem de Las Médulas (León), lar da maior mina de ouro a céu aberto do Império Romano e listada pela UNESCO como Patrimônio Mundial, foi tomada por chamas que destruíram alguns de seus castanheiros centenários.
Patrimônio natural ameaçadoÁreas do Parque Nacional dos Picos de Europa também foram queimadas, e peregrinos que percorrem o Caminho de Santiago por trechos próximos aos incêndios foram afetados.
Portugal, embora com menos hectares totais ardidos, é o país da UE com maior percentagem de território consumido pelos incêndios: 2,83%, concentrados sobretudo nas regiões centro e norte.
A onda de incêndios deixou quatro mortos, forçou evacuações e afetou áreas naturais. Um incêndio ocorreu no Parque Natural do Douro Internacional, a norte, e um incêndio na zona de Arganil (centro) destruiu mais de 64.400 hectares, tornando-se um dos maiores incêndios da sua história.
Grécia e o desafio climáticoA forte onda de calor de agosto também impulsionou a propagação de incêndios florestais em países como Albânia e Grécia, onde mortes e evacuações também foram relatadas.
Na Grécia, com 46.783 hectares queimados — uma área muito menor do que em outros anos, quando o número ultrapassou 100.000 hectares — o calor e os ventos levaram ao início de 152 incêndios em 24 horas, em meados do mês.
A situação no norte do Peloponeso, com surtos fora de controle, forçou a evacuação de cerca de 7.500 pessoas e, dias antes, um incêndio no sudeste de Atenas deixou uma pessoa morta.
Mais incêndios no futuroA Agência Espacial Europeia (AEE) lembrou na última quarta-feira que o desafio a longo prazo é que estes fenómenos deverão tornar-se cada vez mais frequentes e intensos à medida que a crise climática se agrava. EFE
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