Ocean Summit em Nice: Por que a pesca de arrasto de fundo é tema de debate entre pescadores e autoridades

A terceira edição da UNOC, a Conferência das Nações Unidas para o Oceano, foi aberta nesta segunda-feira. Esta cúpula internacional, coorganizada pela França e pela Costa Rica, está sendo realizada em Nice, onde 51 chefes de Estado são esperados. Entre eles, o presidente Emmanuel Macron chegou às 9h para a abertura, assim como o presidente brasileiro Lula , que está em visita à França desde quinta-feira. Também estão presentes o príncipe William e o príncipe Albert II de Mônaco. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também estará presente.

As reuniões entre líderes políticos, empresas, ONGs e representantes da sociedade civil continuarão até sexta-feira. A França, por sua vez, espera a adoção de uma estrutura de governança internacional para o alto-mar com a ratificação do Tratado sobre Biodiversidade Além da Jurisdição Nacional (BBNJ), compromissos para a gestão regional de resíduos plásticos e melhor proteção dos ecossistemas.

"Temos o dever de nos mobilizar", declarou Emmanuel Macron no domingo.

E entre os pontos de discussão: áreas marinhas protegidas . Existem mais de 500 na França, projetadas para proteger a flora e a fauna locais. As ONGs gostariam de reforçar as medidas de proteção, principalmente proibindo a pesca de arrasto nesses territórios. Emmanuel Macron já havia anunciado no domingo, véspera da cúpula, o fortalecimento dessas áreas marinhas, com a limitação da pesca de arrasto de fundo a 4% das águas. Mas isso não é suficiente para as ONGs.

Redes longas e pesadas são lançadas na água para coletar peixes. A pesca de arrasto de fundo é uma heresia para Swann Bommier, representante da associação Bloom : "É como se caçadores fossem caçar com uma escavadeira para arrasar a floresta e garantir que pudessem caçar absolutamente tudo." Segundo várias associações, os oceanos não poderão ser salvos se essa técnica continuar sendo usada em áreas marinhas protegidas:

"Essa pesca de arrasto de fundo destrói entre 20 e 50% de todos os invertebrados presentes em uma área, em uma única passagem de arrasto", explica Swann Bommier.

Antes de acrescentar que a repetição dessas passagens "impedirá a recuperação e a restauração dos ecossistemas", a pesca de arrasto libera 370 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, segundo os pesquisadores. Cerca de cem publicações científicas demonstram a insustentabilidade da pesca em alto mar e os impactos negativos das redes de arrasto em ecossistemas marinhos frágeis nas profundezas do mar.

Mas este é um debate falso para uma parte da indústria pesqueira. "Um pescador profissional não vai ao mar para destruir o oceano. Ele depende da boa saúde deste oceano." Jérôme Jourdain é presidente da comissão ambiental do Comitê Nacional de Pesca: "A pesca é proibida em certas áreas marinhas protegidas, o que se justifica quando há objetivos específicos que a exigem."

"Qual o sentido de proibir a pesca de arrasto de fundo quando uma área marinha protegida visa proteger as aves marinhas? É uma questão de caso para caso", insiste.

Segundo ele, são principalmente a pesca ilegal e a poluição plástica que estão colocando em risco os oceanos e os empregos dos 12.000 pescadores franceses. No entanto, de todos os tipos de artes, a pesca de arrasto gera uma das menores taxas de emprego por tonelada de peixe desembarcada. Já no início de 2023, a União Europeia já havia considerado proibir a pesca de arrasto em áreas marinhas protegidas, antes de recuar diante da pressão de profissionais do setor.