Saúde. Garrafas de vidro contêm mais microplásticos... do que as de plástico.

Um estudo divulgado nesta sexta-feira pela ANSES aponta níveis de contaminação de cinco a cinquenta vezes maiores que os de garrafas ou latas de plástico.
Bebidas como cerveja, refrigerante, chá gelado, vinho e água vendidas em garrafas de vidro contêm mais microplásticos do que aquelas em garrafas de plástico, uma contaminação provavelmente causada pela tinta que reveste as tampas de metal, de acordo com um estudo divulgado na sexta-feira pela ANSES.
Realizado como parte de uma tese cofinanciada pela Agência Nacional Francesa de Segurança Alimentar, Ambiental e de Saúde Ocupacional e pela região de Hauts-de-France, este trabalho foi publicado em meados de maio no periódico especializado Journal of Food Composition and Analysis .
"Esperávamos o resultado oposto."O objetivo deste projeto de pesquisa era "investigar a quantidade de microplásticos em diferentes tipos de bebidas vendidas na França e examinar o impacto que diferentes recipientes podem ter" sobre esse conteúdo de microplásticos, explica Guillaume Duflos, diretor de pesquisa da ANSES. "Esta é a primeira vez que este tipo de trabalho é realizado na França", enfatiza.
As descobertas revelaram uma média de cerca de cem partículas microplásticas por litro em garrafas de vidro de refrigerantes, limonada, chá gelado e cerveja, níveis de contaminação de cinco a cinquenta vezes maiores do que aqueles em garrafas ou latas de plástico.
"Esperávamos o resultado oposto", explica a doutoranda Iseline Chaïb, que conduziu este trabalho no laboratório de segurança alimentar da ANSES em Boulogne-sur-Mer (Pas-de-Calais). "Observamos então que, no vidro, as partículas que emergiam das amostras tinham o mesmo formato, cor e composição polimérica — o mesmo plástico — que a tinta externa das tampas que selam essas garrafas de vidro", continua ela.
Pintura de cápsulas posta em causaAlém disso, a tinta das cápsulas "apresenta pequenos arranhões, invisíveis a olho nu, provavelmente devido ao atrito entre as cápsulas quando são armazenadas antes do uso", observou a equipe de pesquisadores, estimando que isso "poderia liberar partículas na superfície das cápsulas".
Para a água – mineral ou natural – a quantidade de microplásticos foi considerada "relativamente baixa, independentemente do recipiente, com uma média de 4,5 partículas por litro em garrafas de vidro e 1,6 partículas em garrafas plásticas ou caixas", explica a ANSES.
O vinho também continha poucos microplásticos, inclusive em garrafas de vidro com rolha, uma variabilidade cuja origem "ainda precisa ser explorada, exceto para aqueles contidos em garrafas de vidro com tampa", diz Guillaume Duflos. Por outro lado, refrigerantes de cola continham cerca de trinta partículas de microplástico, limonadas, cerca de quarenta, e cervejas, cerca de 80.
Medidas a serem tomadas pelos fabricantesNa ausência de dados toxicológicos de referência, não é possível afirmar se as quantidades de microplásticos encontradas apresentam ou não risco à saúde, ressalta a ANSES.
Os fabricantes podem facilmente tomar medidas para reduzir significativamente o número de partículas microplásticas por litro nas cápsulas, argumenta a agência, cujo laboratório testou com sucesso um método de limpeza caseiro — soprar com ar e depois enxaguar com água filtrada e álcool — que reduziu em 60%.
Alterar as condições de armazenamento das cápsulas "antes do uso para evitar atrito" ou alterar a composição das tintas das cápsulas pode reduzir o nível de contaminação de bebidas por microplásticos, argumenta a ANSES.
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