Sabores de Aragão, as sementes de um futuro verde

Em Aragão, onde a terra marca o pulso da vida e o despovoamento é combatido diariamente, o campo ganhou destaque em uma tarde voltada para o futuro. Na terça-feira, o governo regional realizou a primeira edição dos Prêmios Agroalimentares, um evento que não só entregou prêmios, mas também transmitiu uma mensagem fundamental: a agroalimentação não é apenas mais um setor; é a força vital que sustenta milhares de famílias, o motor que gera emprego e riqueza e a ponte essencial entre tradição, inovação e sustentabilidade.
A componente ambiental esteve fortemente presente em todo o evento, não apenas na cerimónia de entrega de prémios. O local, La Alfranca, em Pastriz – um monumento histórico com séculos de história ligados ao território aragonês – é um espaço emblemático de educação e interpretação ambiental, com centros dedicados à sustentabilidade, biodiversidade e gestão de recursos naturais. A realização da gala no local sublinhou que o futuro do setor agroalimentar passa necessariamente pela integração de critérios ambientais e de sustentabilidade em todos os elos da cadeia alimentar.
O evento coincidiu com o Dia Mundial da Agricultura e reuniu cerca de duzentos convidados — representantes institucionais, empresariais e acadêmicos — que participaram sob o tema "Aragão, verdadeiro sabor". Com esta iniciativa, que nasceu com o objetivo de continuidade, o governo aragonês reconhece empresas, organizações e pequenos produtores que produzem alimentos de qualidade e de origem local e promovem um setor estratégico crucial no combate ao despovoamento.
O evento serviu para destacar a importância do setor agroalimentar em Aragão, que contribui com 11% para o PIB regional e emprega diretamente mais de 20.000 pessoas. Além de sua importância econômica, as autoridades enfatizaram seu valor social: contribui para manter as áreas rurais vibrantes, gera coesão territorial e coloca a região na vanguarda da indústria agroalimentar nacional.

O prêmio de sustentabilidade foi para a Cervezas Ambar, que recebeu o Prêmio Iniciativa Ecológica e Sustentável. A marca – parte da La Zaragozana – mantém seu status de cervejaria aragonesa independente, com um claro compromisso com a inovação, e implementou um sistema de aproveitamento de biogás a partir de resíduos orgânicos que lhe permite reduzir as emissões e caminhar rumo à autossuficiência energética. Este projeto reflete como uma empresa histórica pode se adaptar aos tempos de mudança, adotando a economia circular e um modelo de produção mais sustentável.
Enrique Torguet, Diretor de Comunicação do Grupo Ágora, empresa controladora das Cervezas Ambar, explicou após o evento que, surpreendentemente, por trás de uma cerveja Ambar não há apenas tradição cervejeira, mas também ciência, tecnologia e pesquisa de ponta. Torguet lembra como uma expedição a Ordesa com pesquisadores do CSIC e do CNTA (Centro Nacional de Conservação dos Recursos Naturais) permitiu isolar leveduras e lactobacilos nativos do ambiente pirenaico para criar uma cerveja única: "Pegamos oito ambientes e analisamos os microrganismos que viviam neles. Com um deles, criamos um lactobacilo e, a partir dele, uma cerveja ligada ao parque nacional, inspirada em uma planta que remonta à época em que a região era tropical."
Na área de logística, a empresa já está testando o hidrogênio como combustível em seus caminhões de entrega. "Estamos incorporando a logística de hidrogênio. É um projeto experimental, mas com resultados muito positivos. O trator que usamos foi testado no Paris-Dakar e venceu dois anos em sua categoria. Agora, estamos adaptando-o como um híbrido de hidrogênio para nossas rotas locais." Torguet enfatizou que a sustentabilidade não pode permanecer um mero gesto: "Não é apenas um brinde; tem que ser um ativo rentável. Se não for, não faça, porque os custos o impedirão." Sob essa premissa, a Ambar desenvolveu sua cerveja "triplo zero": emissões neutras, economia de energia e compensação por meio de projetos de reflorestamento na Espanha e na América Latina. A empresa também possui o selo oficial "Reduzco", que certifica a redução das emissões de carbono.
A água, elemento essencial na cerveja, também é rigorosamente gerenciada: "Temos uma estação de tratamento supereficiente. A água que sai é 100% purificada, até melhor do que a que entra. Além disso, já trabalhamos com um circuito fechado para os processos de limpeza e mistura, o que é um grande avanço", enfatiza. O compromisso de levar a qualidade da cerveja a um novo patamar se estende à matéria-prima: "Agora usamos lúpulo florido, diretamente do produtor. Nós o moemos antes de cada fermentação, mantendo assim o frescor e o aroma por mais tempo." Também são notáveis as melhorias no chope, onde a Ambar digitalizou o sistema de limpeza da instalação: "Com esse controle automático, reduzimos as emissões de CO₂, o uso de detergentes e o consumo de água, tudo certificado." O futuro, acrescenta, está em novas propostas que trazem benefícios até para o organismo.
O compromisso com a sustentabilidade também se reflete no campo. A Ambar possui cinco florestas próprias em Aragão e Teruel, onde desenvolve projetos de conservação: "Protegemos espécies como o quebra-ossos, o tetraz, a perdiz branca, o urso-pardo e a borboleta Maculinea arion, endêmica da região de Peñamontañesa. Temos uma microreserva que cuidamos há doze anos em conjunto com a Fundação para a Conservação do Quebra-ossos. A natureza precisa de equilíbrio, e as empresas podem ajudar a mantê-lo."
O Prêmio de Pesquisa Agroalimentar foi concedido à Fertinagro Biotech, que alcançou reconhecimento internacional graças ao seu trabalho em nutrição vegetal e biotecnologia. Com mais de 170 patentes registradas e colaborações com 100 universidades e centros de pesquisa em todo o mundo, a empresa representa a ponte entre a ciência e a indústria.
Seu reconhecimento ressalta que a modernização da agricultura exige transferência de conhecimento e inovação aplicada aos processos produtivos. A empresa se consolidou como uma das empresas líderes no compromisso com a agricultura orgânica, graças a um portfólio que alia tradição e inovação, incluindo produtos orgânicos, fertilizantes ecológicos e bioestimulantes, desenvolvidos para melhorar a saúde do solo e a produtividade das culturas sem comprometer o meio ambiente. Seu trabalho não se limita à redução do uso de insumos químicos; busca desenvolver soluções que proporcionem eficiência, promovam a regeneração dos ecossistemas agrícolas e ofereçam aos agricultores e pecuaristas ferramentas compatíveis com os mais exigentes padrões de sustentabilidade, segundo a própria empresa.
Também se destacou na área de inovação a Vidrio Fruits, que recebeu o Prêmio de Empreendedorismo e Inovação. Esta empresa familiar, sediada em Ricla, revolucionou o marketing de cerejas com novas tecnologias de armazenamento refrigerado e envase. Graças a esse compromisso, conseguiu abrir mercados em países exigentes como China e Vietnã. Seu exemplo demonstra que uma pequena empresa sediada em uma área rural pode competir no cenário global quando incorpora tecnologia e uma visão internacional.
O Prêmio Empresa de Alimentos Artesanais foi concedido à M de Molina, uma oficina especializada em picles em Bajo Aragón-Caspe. Seu caso ilustra como pequenos produtores e artesãos são essenciais para o estabelecimento de uma população nas regiões menos povoadas. O júri valorizou a capacidade da empresa de manter vivo um artesanato tradicional, gerar empregos locais e agregar valor à produção local.
O Grupo Costa, que recebeu o Prêmio Setorial Especial pelo seu ambicioso Projeto CLAVE, foi o principal ator na geração de empregos. Com um investimento de quase € 900 milhões, a iniciativa prevê a criação de aproximadamente 5.300 empregos em Aragão, espalhando a atividade por diferentes regiões, impulsionando a reindustrialização e criando oportunidades de emprego que podem conter a emigração de jovens.
A gala não foi apenas uma cerimônia de premiação, mas o lançamento de uma ferramenta de política pública. Os prêmios fazem parte do Plano Agroalimentar de Aragão 2025-2028, que traça um roteiro para o setor com metas em inovação, sustentabilidade e integração territorial. O objetivo é reconhecer o progresso a cada ano, destacar histórias de sucesso e destacar os desafios pendentes, desde a gestão da água em um contexto de seca até a internacionalização de novos produtos.
O Presidente do Governo de Aragão, Jorge Azcón, encerrou a gala nos jardins do palácio e destacou a conexão entre o setor primário e a realidade social de Aragão: "O setor primário para uma comunidade autônoma como Aragão, onde o território é importante, onde falar sobre o despovoamento é nossa rotina diária", observou, enfatizando que sem o trabalho daqueles que produzem no campo, o mapa demográfico da comunidade seria radicalmente diferente. Nesse sentido, insistiu na necessidade de dar visibilidade ao esforço de milhares de profissionais que garantem a continuidade da vida nas aldeias, combatem o despovoamento e asseguram a sobrevivência das atividades essenciais.
Azcón vinculou diretamente os prêmios a um compromisso institucional de apoiar o setor em seus desafios futuros e argumentou que esse tipo de premiação não deve ser entendido como um gesto simbólico, mas sim como uma ferramenta para destacar boas práticas, inovação, sustentabilidade e, acima de tudo, a capacidade de manter emprego e riqueza em toda a região, simbolizando a diversidade e a força de um setor que, nas palavras do presidente, "faz parte de quem somos e do que queremos ser como comunidade".
Amparo Cuéllar, Diretor Geral de Inovação e Promoção Alimentar, enfatizou a importância de destacar a qualidade e a variedade dos produtos aragoneses e defendeu a necessidade de promover tanto o consumo local quanto a internacionalização.
A primeira edição dos Prêmios Agroalimentares de Aragão envia uma mensagem clara: crescer não significa mais produzir mais a qualquer preço, mas sim produzir melhor. É melhor pesquisar para reduzir o uso de insumos, usar os recursos de forma mais eficiente e ecologicamente correta, inovar para abrir mercados sem perder as raízes locais e garantir empregos de qualidade que se traduzam em coesão social. Com a ciência como alavanca, a recuperação e a proteção da natureza como condição e o mundo rural como prioridade, Aragão lançou prêmios que aspiram a se tornar uma referência anual e um compromisso compartilhado entre instituições, empresas e sociedade.
ABC.es