Brasil deve terminar 2025 com menos rotas aéreas

O país começou o ano atendendo mais de 150 cidades e deve terminar 2025 com cerca de 116 destinos
A aviação brasileira tem crescido em termos quantitativos, mas a distribuição de rotas está diminuindo. O país começou o ano atendendo mais de 150 cidades e deve terminar 2025 com cerca de 116 destinos. A afirmação é do sócio da Abaeté Aviação, Tiago Tosto, que participou do segundo painel da programação do Bahia Export 2025, nesta quinta-feira (14). O evento acontece em Salvador e reúne autoridades do setor para discutir os principais desafios de logística e transporte do estado.
O painel, com o tema ‘desafios para a expansão do transporte de passageiros no estado da Bahia’, destacou os entraves para o desenvolvimento da aviação regional no país, que impactam diretamente o setor no estado. Essa foi a primeira mesa de debates voltada ao transporte aéreo do fórum estadual, que integra o calendário do Brasil Export pelo segundo ano consecutivo.
Tosto ressaltou que, pela extensão territorial do Brasil, a aviação tem um caráter estratégico no transporte do país, o que reforça a necessidade de discutir a abertura de novas rotas.
Impactos da judicialização
O diretor-presidente substituto da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Adriano Miranda, afirmou que o órgão tem atuado para construir ambiente favorável ao crescimento de ofertas de rotas e serviços mais diversificados, com foco em atendimento regionais. Esse desenvolvimento passa pela chegada de mais empresas no setor, mas a judicialização foi apontada pelo diretor como um obstáculo nesse movimento.
“A gente não quer cercear o acesso ao judiciário, mas precisamos estudar se, de fato, isso está sendo efetivo. São barreiras para atrair novas empresas que ofereçam serviços mais enxutos, low cost, que é o que a gente mira”, salientou Miranda.
O diretor de Relações Institucionais da Socicam, Wanderley Galhiego Jr., destacou um levantamento da Associação Brasileiras das Empresas Aéreas (Abear) que aponta que 98,5% de todas as ações judiciais contra companhias aéreas no mundo são do Brasil.
Ele também pontuou que o país tem registrado o mesmo número de passageiros na aviação civil nos últimos três anos. Em 2024, o setor registrou uma movimentação de 118,3 milhões de passageiros, na soma dos mercados nacional e internacional, o segundo melhor desempenho da história. Mas o número de viagens per capita, índice mais utilizado para avaliar o mercado, é de cerca de 0,5. O Brasil fica atrás de países como o Chile, com 1,1; Estados Unidos, com 2,8; e Austrália, com 2,96.
Galhiego ressaltou ainda que os quase 120 milhões de passageiros anuais são distribuídos, na verdade, por aproximadamente 25 milhões de CPFs. “Se temos cerca de vinte milhões de CPFs voando, 200 milhões não estão voando. É um problema muito mais crônico. Deveríamos ter, pelo menos, 100 milhões de CPFs voando por ano”, afirmou.
Aeroportos ainda operam abaixo da capacidade
Segundo Wanderley, com as concessões promovidas no setor de aviação, a infraestrutura deixou de ser um problema. Ele afirmou que todos os aeroportos concedidos no país operam abaixo da sua capacidade, e disse que o desafio é flexibilizar o ambiente para aumentar as ofertas no setor.
O CEO da Vinci Airports no Brasil, Júlio Ribas, afirmou a importância de desenvolver novos subsídios para a aviação regional. Ele destacou políticas em países como EUA, Canadá e Austrália voltadas a estimular o setor. “Os EUA têm o programa EAS (Essential Air Service), que leva voos a lugares que não iriam sem subsídio. Isso promove empregos, estimula a economia”, explicou o diretor.
Ribas ainda citou as concessões de aeroportos na Amazônia administradas pela sua própria companhia, como um exemplo da necessidade desses investimentos. A Vinci Airports gere sete aeroportos na região. Desse total, seis são deficitários. Segundo o CEO, o Aeroporto de Manaus é o que ‘segura’ o lote. “No caso de aeroportos na Amazônia, é uma questão de sobrevivência. Vários deles não têm estrada”, concluiu, reforçando a dificuldade de acessos aos terminais.
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