As mulheres indígenas são essenciais para combater as crises climáticas, de direitos humanos e de justiça social.

Lima, 20 de junho (EFE).- Ignorar a liderança das mulheres indígenas é "desperdiçar algumas das soluções mais eficazes e sustentáveis para enfrentar as crises climáticas, de direitos humanos e de justiça social que ameaçam o mundo hoje", afirmou o Fórum Internacional de Mulheres Indígenas (FIMI) na sexta-feira ao publicar o novo relatório global "Pequim +30: Mulheres Indígenas em Ação".
O documento, apresentado em Lima, revela o impacto positivo que as mulheres têm na regeneração ambiental, na justiça econômica e na cura coletiva, mas também a situação crítica que elas continuam enfrentando ao redor do mundo.
Entre as conquistas das mulheres indígenas estão seu trabalho em territórios como o Ártico, a integração da igualdade de gênero e do conhecimento tradicional nas políticas regionais e a defesa dos povos Sami e Inuit.
Na África, isso inclui a liderança de mulheres indígenas em mudanças políticas e sociais, processos de construção da paz, políticas contra o casamento infantil e a favor da educação de meninas, bem como a recente eleição de conselheiras em Uganda, um evento considerado transformador e que muda as estruturas de poder desde a base.
Na América Latina, destacam-se a criação do Ministério dos Povos Indígenas no Brasil, a participação de mulheres indígenas colombianas no Acordo de Paz de 2016 e o trabalho de jovens intérpretes peruanas da língua quíchua, que estão reduzindo as barreiras linguísticas nos tribunais.
Referindo-se à Ásia, ela destaca a implementação da Lei dos Direitos dos Povos Indígenas, a tradução da Recomendação Geral 39 da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), adotada em 2022 pela Associação de Mulheres Indígenas da Malásia (PWOAM), e o Tratado sobre Conhecimento Tradicional da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) (2024), para proteger o conhecimento ancestral da biopirataria.
Na região do Pacífico, sua liderança em soluções inovadoras para a crise climática e o reconhecimento de suas visões de mundo também se refletem no desenvolvimento do modelo inovador de Sistemas de Energia para construir resiliência comunitária na região.
Soluções cercadas de violênciaEsses resultados coexistem com a violência sistemática que as mulheres indígenas continuam a sofrer, como — como o documento menciona — a crise no Canadá, com mais de 4.000 mulheres e meninas indígenas desaparecidas ou assassinadas, e a falta global de proteção legal, com apenas 24 estados tendo ratificado a Convenção 169 da OIT sobre direitos territoriais.
O relatório se baseia nas contribuições diretas de mulheres e jovens indígenas da África, Ásia, Pacífico, Américas e Ártico, que estão trabalhando em soluções e estratégias eficazes para proteger seus territórios, culturas e modos de vida.
Suas propostas, que respondem a desafios locais, também podem ser adaptadas e replicadas em diferentes contextos ao redor do mundo. Essas ações já estão sendo implementadas com resultados favoráveis, apesar do contexto de violência sistemática e do financiamento limitado, que representa 1,4% do financiamento alocado a mulheres e meninas globalmente.
Nesse sentido, a diretora executiva do FIMI, a guatemalteca Teresa Zapeta, representante do povo maia Kaqchikel, enfatiza que “falar de justiça climática também significa falar de acesso a financiamento direto para mulheres indígenas”.
"Queremos participar da tomada de decisões, e isso precisa acontecer se quisermos mudar o mundo como ele é hoje. Se quisermos transformar a crise global que vivemos atualmente, precisamos ter mulheres em órgãos decisórios em todos os níveis", acrescenta Joan Carling, membro do povo Kankanaey, das Filipinas.
O novo relatório global, "Pequim +30: Mulheres Indígenas em Ação", foi apresentado na reunião de 25 anos da FIMI, realizada em conjunto com o trigésimo aniversário da Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher e a adoção da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, que antecede a COP 30. EFE
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