Desafios para integração regional marcam debate sobre hidrovias no Mercosul

Especialistas apontam entraves burocráticos, falta de infraestrutura e dificuldades de financiamento como os principais obstáculos para ampliar o uso do transporte fluvial
Apesar do enorme potencial logístico, o transporte hidroviário no Mercosul ainda esbarra em uma série de entraves que comprometem sua eficiência e expansão. Burocracia excessiva, baixa previsibilidade nas rotas e dificuldade de acesso a financiamento foram alguns dos principais desafios destacados pelos participantes do painel “Como a iniciativa privada está transformando o transporte fluvial no Mercosul”, realizado nesta quinta-feira (17), durante o Mercosul Export 2025, em Assunção, no Paraguai.
O painel teve início com a apresentação de Paulo Bertinetti, diretor-presidente do Tecon Rio Grande, que compartilhou o case do terminal fluvial de Santa Clara (RS), hoje referência em integração logística e redução de emissões. Segundo ele, a hidrovia “levou o porto até a zona produtora”, promovendo ganhos logísticos, econômicos e ambientais.
Ainda assim, Bertinetti ressaltou que o desafio atual é ampliar a frota de embarcações capazes de operar tanto em rios quanto em mar. “Hoje já temos um cenário mais favorável para integração regional, mas ainda precisamos superar entraves legais que dificultam, por exemplo, o uso de tripulação mista entre trechos fluviais e marítimos.”
Diego Azgueta, CEO da InterBarge, reforçou a crítica à falta de alinhamento regulatório entre os países do bloco. “São cinco países com cinco conjuntos de regras diferentes. Isso torna o diálogo técnico com as autoridades extremamente complexo e moroso. Precisamos de uma governança mais eficiente para viabilizar mudanças reais”.
A falta de padronização documental também foi mencionada por Regis Prunzel, diretor de Portos da América do Sul da Cargill Agrícola. Para ele, a ausência de previsibilidade e a burocracia impactam diretamente a competitividade do modal. “Se temos um único rio que conecta Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, por que mantemos legislações e processos distintos em cada trecho? Não faz sentido. O livre comércio precisa ser destravado de fato”, criticou.
Francisco Mackinlay, CEO da Atria Logística, chamou atenção para problemas com a renovação da frota e a formação de mão de obra qualificada.
“Temos uma carência de embarcações de baixo calado e alto desempenho, além de dificuldades em financiar novas unidades. Falta também pessoal capacitado para operar essas tecnologias”, afirmou Mackinlay, destacando que navegar à noite ainda é um desafio técnico em muitas regiões, o que reduz a eficiência e eleva os custos operacionais.
A mediação do painel ficou a cargo de Leopoldo Figueiredo, diretor-geral da Rede BE News.
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